quarta-feira, 25 de julho de 2012

Da vida das marionetes - 1980


"Da vida das marionetes, cujo roteiro havia sido escrito com grande economia de diálogo, foi depois encurtado em vinte por cento do texto. Ao fazer a gração, excluí mais dez por cento.
Isso explica a forma densa que o filme revela: sequencias curtas com textos intermediários, à maneira de Bretch. Textos, esses, que põem os acontecimentos em relação à catástrofe final.
Fiz alguns filmes maus que, no entanto, me são queridos. Realizei também filmes, objetivamente considerados bons, que me são indiferentes. Outros estão submetidos, o que é cômico, a minhas mudanças de conceitos. Por vezes, acontece de alguém dizer-me: Oh! Esse filme eu adoro! Nestes casos, sinto grande satisfação, e passo a gostar também do filme.
Uma coisa não posso negar: orgulho-me de um filme como Da vida das marionetes. É que este filme se impõe ainda hoje.
(...) o ser humano encontra-se num quarto escuro sem portas nem janelas. Em algum lugar, contudo, deve existir uma fenda, invisível a nossos olhos, que nos dá uma sensação de ar fresco (citando o escritor sueco Olle Hedberg).
(...)A imagem de Peter, no hospital, como um homem que cortara todos os contatos com o mundo exterior não é outra senação a que eu próprio vivi, durante minha estada em uma clínica de psiquiatria após o caso relacionado com meus impostos."
(Bergman, Imagens)

Nota minha: o filme de Bergman é uma homenagem à Dostoiévski :D

"O impulso real que levou Bergman a filmar esta história se resume melhor no título, que sugere alguns fragmentos da vida de pessoas controladas por forças e desejos que elas não compreendem, como se fossem marionetes presas por fios a um manipulador lá em cima. O impulso real o espectador apanha melhor na estrutura de narração, na preocupação de fragmentar, no descolorido – que mais que uma simples solução formal adaptada a esta história é uma representação direta da visão um tanto sombria que o realizador tem da vida: coisa amarga, violenta e sem sentido. Se viver tem algum sentido este nos escapa, porque somos marionetes, analfabetos com relação a tudo o que diz respeito ao espírito, incapazes de saber que curto-circuito pode, de repente  – diz Bergman em seu filme –,  levar um homem a sonhar obsessivamente que corta o pescoço de sua mulher com uma navalha."

Fonte: http://www.escrevercinema.com/bergman_da_cor.htm

Das cores

O colorido quente e luminoso do prólogo deste novo filme de Ingmar Bergman transmite com clareza aquela primeira informação que vem de toda imagem de cinema, ou seja, a aparência das pessoas e coisas fotografadas (informação que nos coloca mais perto do real fotografado que do processo usado para fotografar o real). Transmite com clareza: o espectador tem aí uma visão bem definida da ação registrada pela câmera e recebe deste registro uma forte sensação de realidade. Quer dizer, é assim mas talvez não seja bem assim. A impressão de realidade que vem do prólogo de Da vida dos marionetes (Ur Marionetternas liv, 1980) logo se forma e logo se desfaz. Ela aparece no colorido, nesta parte da imagem que a gente vê antes mesmo de identificar as pessoas e objetos fotografados, nesta parte da imagem que funciona na fotografia como um prólogo da fotografia. A impressão de realidade, neste novo filme de Bergman, desaparece quando o olhar se desloca do centro para os limites da imagem porque o quadro, com freqüência fechado sobre um detalhe, mostra só um pedaço da ação, e um pedaço nem tão significativo assim, ao contrário do que em principio se espera de uma narração preocupada em mostrar as coisas assim como elas são - como recomendavam os neo-realistas italianos. 

Pelo menos desde Persona, filmado em 1964, Ingmar Bergman constrói seus filmes num espaço entre o realismo, ou mesmo naturalismo, (quando observamos apenas o lado de dentro da imagem, o colorido da cena) e um estilo fantástico, surrealista (quando observamos também e simultaneamente o lado de fora da cena, o desenho do quadro e o que os limites do quadro sugerem). Tudo é ao mesmo tempo natural e absurdo, real e irreal, e só mesmo a presença simultânea destes dois componentes pode revelar a imagem por inteiro.

Fonte: http://www.escrevercinema.com/bergman_da_cor.htm

O prólogo e o uso do vermelho: característica recorrente de Bergman para representar o interior da alma.

"Cada uma das seqüências deste filme, uma mais incrível do que a outra, provoca uma onda de choque genuíno nos espectadores. Desarmados, somos apresentados a Peter e então submetidos a seguidas provas de empatia para com um personagem que, a princípio, julgávamos alguém cruel e desalmado. Mas Peter não é um assassino de filme de suspense. Ele é alguém como eu e você. Uma pessoa comum: inteligente, espirituoso, bem-educado, tímido, calado. Alguém taciturno e dominado por tensões que, devido a uma rara e complexa conjunção de fatores, acaba dobrado pelos traumas da própria psique. Cada uma das cenas deste filme magnífico ajuda a construir um retrato intrincado do movimento interno de Peter, até o perfeito golpe final do cineasta. No epílogo circular, quando Peter mata a prostituta, não apenas o compreendemos, como entendemos e até justificamos o ato assassino. Apreciar “Da Vida das Marionetes” é contemplar, de mãos amarradas, os horrores da nossa própria humanidade."

Fonte: http://www.cinereporter.com.br/criticas/vida-das-marionetes-da/

"As pessoas tem medo e o medo é pior que suas obsessões."


 “Há certos poderes que me guiam e que não consigo controlar. Médicos, amantes, comprimidos, drogas, álcool, trabalho. Nada ajuda. São poderes secretos. Têm nome? Não sei. Talvez seja o processo de envelhecimento. Não tenho controle sobre essas forças. Eu me aproximo do espelho e olho para a minha cara, que se tornou tão familiar. E chego à conclusão de que esta combinação de carne, sangue, nervos e ossos reúne duas pessoas incompatíveis. De um lado, o sonho de intimidade, de ternura, interesses comuns. Do outro a violência, a obscenidade, o horror e a morte. Às vezes penso que têm a mesma origem. Não sei. Como poderia saber?”.



"Lembra como nos esforçamos no início? Nós tínhamos um capital. Chame isso de capital amoroso, se assim quiser. Desperdiçamos tudo sem necessidade. Você sabe por quê? Aceitamos as regras sem ter talento para o jogo."

Uma abordagem lacaniana - a perda do capital amoroso

No epílogo, as cores voltam. O vermelho mais uma vez entra em cena - as peças se movimentam sobre a cor vermelha do tabuleiro, "a alma."

sábado, 21 de julho de 2012

Bergman

Tentar dar uma significação global à obra de Ingmar Bergman, fazer uma síntese de seus elementos constitutivos, é antes de tudo deixar-se embalar por uma série de imagens-mães que deixaram em nossa mente um traço indelével, signo de uma potência visual extraordinária. São imagens sempre marcadas por uma grande beleza plástica, que não constituem somente as fulgurações do estilo bergmaniano, mas imagens que trazem no interior de si mesmas a significação dos filmes e sobretudo sua tonalidade dramática, seu ritmo lento cortado por impulsos de emoções.
 
"Sucessão de impulsos e de repousos", tal como Stravinsky definiu a música.Ver um filme de Bergman é meditar, é ir o mais fundo possível no âmago do ser humano, é viajar por um planeta estranho à procura de uma chave que possa abrir nosso próprio cárcere para nos libertar de nós mesmos, nos fazer sair das trevas, acendendo a chama para que possamos caminhar melhor no nosso mundo interior. 
 
Portanto, aqui o cinema é utilizado como instrumento de introspecção, como meio revelador de estados d'alma. Essa palavra alma, que é proferida de alguma maneira em todos os seus filmes, sem exceção, é a própria substância de sua obra. A alma dos personagens, invisível e abstrata que aparece, no entanto, nos espaços e nas formas, e sobretudo na expressão dramática dos atores, nos seus rostos filmados de perto. Rostos em sua terrível nudez, em sua beleza muda, traduzindo sentimentos. O que interessa é a alma, o rosto e o que está por trás do rosto. 
 
E o caminho para penetrar na alma de um ser humano começa pelo rosto.Se a obra de um artista se define pela fidelidade a uma temática, então esse artista é Bergman, o cineasta da alma, mas também o cineasta do corpo, da pesquisa gestual do corpo, da presença física de personagens integradas ao cenário, personagens que fazem avançar a ação na medida em que são colocadas em cena como no teatro. Suprime-se o palco, corta-se a distância, de modo que a diferença entre a vida e o cinema desapareça. Nada mais aristotélico e menos brechtiano que a direção de atores em Bergman. A simplicidade, a sinceridade, a "cotidianidade" de seus intérpretes, seu natural, seu naturalismo mesmo, antes do seu talento, é o que fascina os espectadores, que os levam, aliás, a olharem em seus espelhos.
 
Cineasta intimista, artista abandonado por Deus, criança castigada pelo pai, recém-nascido que ainda não rompeu o cordão umbilical, Bergman costuma viajar pelo interior de si mesmo, penetrando na obscuridade de um longo túnel em busca de sua singularidade. Ele progride em linhas espirais, por labirintos que se fecham e se transformam em circunferências desesperadamente concêntricas. A impossibilidade fundamental de encontrar-se consigo mesmo conduz ao desespero e faz com que o homem não encontre a porta de saída. 
 
A arte de viajar por dentro das pessoas, eis uma das essências bergmanianas. A viagem comoforma simbólica de atingir um objetivo, ou como um meio de estruturar o próprio filme. "Uma lição de amor", "Sonhos de mulheres", "Morangos silvestres", "O rosto" são filmes de viagens. Como o é também e principalmente "O silêncio", desde a primeira imagem do trem, dos compartimentos-células, depois por tudo o que vemos: a obscuridade do longo túnel, o cortejo lento dos tanques, a paisagem estranha. Do trem nós passamos ao hotel, uma prisão ainda, a despeito dos largos espaços. E fora do hotel é parecido com dentro: ruas, salas e sombras, paredes velhas, úmidas, manchadas, sombras de transeuntes, transeuntes que são sombras,silhuetas de homens que falam uma língua incompreensível, desconhecida, numa cidade que os geógrafos ignoram. 
 
O interior humano é um planeta a descobrir. É através das viagens constantes a esse mundo desconhecido que Bergman leva o espectador a profundas meditações de caráter metafísico. Em suas viagens, Bergman procura distinguir a vida exterior da vida interior, a vida estética da vida ética, depois de passar desta última a uma vida sobrenatural, para não dizer religiosa. Deus e o amor estão sempre presentes na obra do cineasta, mas se o amor existe como uma realidade no mundo dos homens, Deus permanece como uma dúvida, no seusilêncio e no seu mistério. É justamente afrontando esse silêncio e esse mistério que Bergman lança as suas interrogações e nos remete a uma responsabilidade interior, na qual nos apercebemos ser impossível exprimir o inexprimível, comunicar o incomunicável, traduzir o intraduzível.Cineasta da vida, cineasta do amor, cineasta da morte. Cineasta que vive o sonho e sonha com avida, Bergman nos revela sobretudo o que acontece por dentro das pessoas em seus gestos cotidianos e estados naturais: solidão, medo, sofrimento, angústia entre efêmeras pausas de alegria, segurança, satisfação, conforto.
 
Cineasta dos interiores, a direção de atores em Bergman se orienta pela sua visão do mundo: intra-uterina. E abrange inclusive a nós, espectadores fechados numa sala escura onde é abolida a fronteira entre personagens e platéia. Procuramos a saída, mas não achamos a porta. A tela é um espelho que nos devolve a nós mesmos. Somos colocados diante de nossa própria irrealidade, abandonados entre a vida e a morte, somos em síntese mistérios insolúveis.
 
Cineasta do flash back, Bergman vai ao passado e volta ao presente para contar histórias, rompendo com todos os convencionalismos materiais, abrindo novas e fascinantes possibilidades para uma aproximação antes nunca imaginada entre o espectador e o filme, tal como se dá no teatro. 
 
Cineasta da mulher, Bergman usa rostos e corpos femininos para falar da alma feminina, do interior da mulher, de onde irrompe a luz da vida e para onde o ser humano sente o desejo de regressar em busca de suas origens.

Fonte: Armando, Carlos - O Planeta Bergman
Disponível em http://pt.scribd.com/doc/7273782/ARMANDO-Carlos-O-Planeta-Bergman

Quando as Mulheres Esperam (1952)



Quando as mulheres esperam (1952) é um dos primeiros sintomas dos novos rumos que tomaria a obra de Bergman após a primeira manifestação de maturidade que foi Juventude. Poderíamos mesmo dizer que a fita é uma recapitulação de seus dez primeiros filmes e a apresentação de uma das novas linhas temáticas que passaria a adotar a partir dali: a da comédia, mas com elementos trágicos, característicos de sua personalidade, sabiamente distribuídos nos diálogos e situações. Nessa nova linha, Bergman faria Uma lição de amor (1954), Sonhos de mulheres (1955) e Sorrisos de uma noite de amor (1955), um novo marco de maturidade do autor, dentro de um gênero em que a Suécia se salientou desde os tempos de Erotikon (1920), de Mauritz Stiller.

A narrativa desenvolve-se através de rememorações, a história conjugai de quatro mulheres que, durante as férias de verão, estão esperando seus maridos numa casa de campo. Enquanto esperam, as mulheres trocam impressões e fazem confidencias sobre sua vida íntima com os quatro homens, que são irmãos e constituem diversos tipos psicológicos. O filme é considerado como o primeiro de Bergman a fazer concessões nitidamente comerciais, mas nem por isso deixa de ser um profundo estudo da alma feminina, que analisa trágica e satiricamente os dramas advindos do casamento, dos quais a mulher é sempre a maior vítima, seja pelo desencanto, pela rotina ou pela frustração.


fonte: fls. 32, Armando, Carlos. “O Planeta Bergman”, Oficina de Livros Ltda, Belo Horizonte/MG, 1988, 338 pp.

"Estaremos todas juntas aqui, com nossas mágoas vulneráveis à curiosidade das outras. Para mim, não será bem umas férias"

 "É claro que temos. Dizemos “Olá” e “Tchau”. “Bom dia, querido”... “Boa noite, meu amigo”, “Como foi seu dia”. (...) Mas nunca nos aproximamos um do outro. Nunca temos qualquer tipo de afeto ou intimidade. (...) Não posso nem gritar com ele. Não posso amarrar o corpo dele ao meu. Não posso arrancar seus olhos para que fique cego e dependa de mim. (...) Uma mulher adulta que devia ter se resignado e se encontrado. (...) Só tenho a minha vida, só isso. (...) Mas que nos tornamos? Um casal de fantoches chineses corteses. Não, eu me recuso. Não é para as coisas serem assim..."

"Sentir-se abandonada. Sabemos como é esse sentimento."



"Você está confusa em seus padrões morais. Estão em seu estômago, podem ser operados como um apêndice."
"O que disse ao pobre suicida? Bem, disse: 'a pior coisa não é ser traído, mas ser solitário. Se é verdade ou não, funcionou."



O olho do diabo - 1960

 "Ofereça uma certa resistência se isso lhe agrada ou aumenta o seu prazer. (...) Leio os seus olhos. (...) tudo... tudo impede que você se entregue ao abraço inevitável. (...) Mas há uma macha negra em seu ser, Renata. Uma mancha negra de sensualidade invencível, reprimida há muito tempo. Em seus sonhos, você a dá liberdade total e se entrega ao prazer. (...) Em seus sonhos, você se entrega a um prazer sensual sem amarras até os mais extremos limites da dor e da degradação".

 
"É como no teatro. Você me vê num papel, achando que sou eu, e outros me vêem em outros papéis, achando que sou eu. Ninguém me vê de verdade."




"A falta de princípios tem sido o meu princípio, o vício minha virtude, a devassidão minha estética e a ausência de Deus minha religião. Então, em suma, somos bem parecidos, eu e você."


"No fundo do meu coração,desejo tal ferida, mas isso não pode acontecer".

"Uma pequena vitória no inferno pode ser muito mais profética do que um grande sucesso no céu."

"O que se vê é uma conduta moral fundamentada na própria consciências dos indivíduos. Não são as forças celestiais e nem a imposição do poderes infernais que os conduz, senão seus próprios desejos humanos e as escolhas que estes fazem a cada instante. Há uma autonomia vigorosa em cada um deles que, por sua vez, desestabilizam as forças espirituais que tenta a todo tempo tomar as rédeas da natureza humana. No entanto, há uma coisa a qual todos a sua maneira tendem: o amor. "


Fonte: http://maxwell-alegoriadacaverna.blogspot.com.br/2012/07/o-olho-do-diabo-um-filme-de-ingmar.html

Notas:

*A fotografia não é do Steven Nykvist, mas sim de Gunnar Fischer. Bergman alterava os trabalhos entre Gunnar e Nykvist, mas depois de "Através do Espelho" ele fixa a parceria com Nykvist.
*A presença do narrrador - uma influência do teatro grego?
 

domingo, 15 de julho de 2012

Through A Glass Darkly - Através do Espelho - 1961


 "Agora nós vemos como através de um espelho, obscuramente; depois nós veremos face a face. Agora me conheço apenas em parte, mas depois saberei como sou conhecido. Agora subsistem a fé, a esperança e o amor, mas desses três o maior é o amor." (Carta do apóstolo Paulo)

“Entregar-se pela obra perfeita, pela eternidade, por amor? Será que enlouqueci? Quem verá meu sacrifício? A morte. Quem irá avaliar a profundeza do meu amor? Um fantasma. E quem me agradecerá? A eternidade.”
(BERGMAN:1961)


"Traçamos um círculo imaginário ao nosso redor,
para afastar aquilo que não faça parte do nosso jogo secreto.
Cada vez que a vida rompe esse círculo,
os jogos se tornam insignificantes e ridículos.
E então, construímos um novo círculo e novas defesas."

"Só posso dar a você uma ideia da minha própria esperança.
É saber que o amor existe de verdade no mundo humano.
Todos os tipos.
O maior e o menor,
o mais absurdo e o mais sublime.
O desejo de amor e a negação.
Confiança e desconfiança."

A personagem Karin foi a responsável por toda a série de acontecimentos na trama do filme.Inspirada ou não pelos deuses, a doença da moça conduz todos os três personagens à descoberta e vivência do amor. No marido, dá-se essa descoberta na forma de uma completa dedicação, atenção, carinho e paciência sem limites. No pai, acontece um “nascimento” que nem ele sabe explicar, mas que dá o nome de amor, pelos outros. E, em Minus, o amor se faz presente nele no momento que o pai dialogou, verdadeiramente, com ele. Karin pode ter sido um “espelho” para eles que, através dela, “através desse espelho”, os outros fizeram suas próprias descobertas, de si, enquanto seres humanos.

Fonte: http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa16/carolinalusitano.pdf

 Nas palavras de Bergman:

Fotografia:

Que o fotógrafo Sven Nykvist e eu tenhamos rido bastante com a luz pastosa do filme, isso é outra história. Foi nessa época que começaram nossas discussões sérias sobre problemas relativos à luz, o que originou um outro tipo de fotografia em "Luz de inverno" e em "O silêncio".

Identificação:

Um aspecto horrivel de um filme é que ele dá sempre uma imagem tremendamente reveladora, tanto humana como artística, do estado de espírito em que nos encontramos quando o fazemos. Um livro, neste aspecto, nunca é tão revelador. As palavras são mais ambíguas que as imagens.
O filme, por conseguinte, esconde uma trapaça. Em grande parte inconsciente, é certo, mas que nem por isso deixa de sê-lo.
"Através do Espelho" é um filme ligado a meu casamento com a pianista Kabi Laretei.
Havíamos criado em nosso casamento uma encenação cansativa. Estávamos desorientados e, ao mesmo tempo, tínhamos ambos enorme sucesso em nossas profissões. Sentíamos fortes laços entre nós, podíamos conversar sobre tudo o que nos passava pela cabeça, grandes e pequenas coisas, mas, no fundo, carecíamos de uma linguagem comum.
Gunnar Bjornstrand (personagem do pai) faz o papel de um escritor de best-sellers, e, neste personagem, incorporo minha própria situação de ter sucesso, embora sem ser considerado escritor. Ponho-o a contar a tentativa de suicídio que fiz na Suiça, pouco tempo antes de realizar "Sorrisos de uma Noite de Amor". O texto é de um cinismo que brada aos céus: desta tentativa de suicídio, David tira uma conclusão muito duvidosa: procurando sua morte, ele tem acesso a um renovado amor por seus filhos.

Fonte: Imagens, Bergman.

domingo, 8 de julho de 2012

Gritos e Sussuros - 1972


Análise da mise-en-scène em “Gritos e Sussurros”, de Ingmar Bergman

Definindo mise-en-scène

Definir mise-en-scène é falar da essência de um filme. Na definição de Bordwell, a mise-en-scène compreende todos os aspectos da filmagem sob a direção do cineasta: a interpretação, o enquadramento, a iluminação, o posicionamento da câmera. Mise-en-scène também se refere à maneira como os atores entram na composição do quadro, o modo a ação se desenrola no fluxo temporal.

O plano de estabelecimento e a introdução ao estilo do filme

            O establishment shot do filme conduz o espectador de maneira gradativa: na abertura, cenas externas do jardim da casa aonde irá se desenvolver a ação, com ênfase no azulado, esverdeado. A movimentação da câmera é oscilante. O fade para o vermelho vai nos mostrar o que acontece dentro da casa. O trabalho de cores no filme é marcante: nesta cena, é como mostrar o contraste da calma natureza da parte externa da casa, com tons esverdeados, azulados, com o intenso vermelho do interior da casa, aonde irá se desenrolar a ação dramática, a tensão:


“Basicamente, há apenas três cores em Gritos e Sussurros: o vermelho das paredes e o branco e o preto que as mulheres vestem. Ou seja, um filme que retrata a morte, o amor, o sexo e o ódio, passa-se em uma casa de paredes e chão vermelhos. Bergman disse não saber exatamente o motivo, afirmou que talvez fosse porque imaginava vermelhas as paredes do útero, assim como as da alma. Deve haver alguma verdade no senso comum que considera tal cor a representação da paixão e da raiva.”
 (Milton Ribeiro)


A transição de cores vai do azulado/verde para um fade em vermelho, marcando o ambiente interno.
Um relógio antigo sugere a passagem inevitável do tempo. O som do relógio é o único em cena:

“O momento da morte representa também a morte do tempo individual: a vida de um ser humano torna-se inacessível aos sentimentos daqueles que continuam vivos, morre para aqueles que o cercam.”

(Tarkovsky, Esculpir o Tempo, p.64)


A próxima cena nos apresenta uma das personagens, a irmã Maria (Liv Ulman) deitada em uma espécie de cadeira, acomodada de forma improvisada, pois estava cuidando da protagonista, a personagem de Harriet Anderson (Agnes), que é mostrada a seguir. Todo o interior da casa é apresentado em um vermelho saturado. O contraste com a roupa das personagens, um branco alvo, é expressivo. Nesta cena, a câmera faz um corte abrupto para um close no rosto da personagem Agnes, evidenciando sua condição física. O rosto da atriz é iluminado lateralmente, com a luz que vem da janela. Segue-se um longo plano, com o rosto da personagem em close, onde ela agoniza. A longa cena, sem cortes, parece querer enfatizar o sentimento de mal estar ao espectador:

“Bergman é sem dúvida um dos grandes estetas do close-up cinematográfico, e aqui seu teatro de fisionomias adquire uma carga extra de significação: Gritos e Sussurros é uma anatomia de rostos femininos, estudados tanto em sua materialidade quanto em seus investimentos subjetivos. E esses rostos, ao menos para Bergman, são “contos de terror”, daí seu teatro de fisionomias se desdobrar numa performance da crueldade, encenada com marionetes que sofrem de um desespero magoado e, muitas vezes, contido (quando apenas sussurrado).
(Luiz Carlos Oliveira Jr., Revista Contracampo)    


A personagem levanta-se com dificuldade. Não há cortes: Bergman privilegia os planos-seqüência, enfatizando a atuação dos personagens e dando uma maior carga dramática à cena. Agnes se aproxima do relógio, mais uma vez em sua marcação de tempo: o tempo da personagem está se esgotando e ela parece ter a consciência disso. Ao aproximar-se da janela, um brusco corte registra a paisagem externa.


A encenação em profundidade:

“Na acepção mais difundida, a profundidade de campo designa a capacidade das lentes da câmera em captar diversos planos de ação em foco. (...) Planos com várias escalas de profundidade exigem que o espectador tenha tempo para ler a imagem e estabelecer as relações entre personagens e objetos na frente e no fundo da imagem.”
(Baptista, Mauro)


 
Na cena apresentada, vemos as duas irmãs de Agnes mais a criada Anna. Podemos observar a encenação em profundidade pela disposição das atrizes em quadro: em uma encenação quase que teatral, vemos a irmã Maria (Liv Ulmann) em primeiro plano, acordando, em um segundo, a criada Anna, servindo o café, e no fundo do quadro, percebe-se a irmã Karin entrando em cena. Aqui, podemos ter um exemplo de perspectiva e de profundidade de campo, uma vez que tanto o primeiro plano quanto o fundo estão nítidos. A ação se desenrola em vários “planos”, e as atrizes movem-se como se realizassem uma “coreografia”.
Por encenação, utilizando-se dos conceitos de Bordwell, entenda-se o conjunto dos elementos cênicos que, articulados, ajudam a contar uma história e transmitir emoções e idéias: luz, cenografia, figurinos, a posição e movimentação dos atores.
A cena tem uma longa duração e é sem cortes. Montagem e encenação se complementam, mas, num certo nível, se opõem. Dar preferência à encenação significa, em grande parte das vezes, privilegiar os planos-seqüência, isto é, aqueles sem cortes e/ou planos fixos, onde a profundidade de campo e a movimentação dos atores, auxiliadas por uma disposição engenhosa de elementos de cenografia, têm mais relevância para contar a história do que os cortes entre vários tipos de planos.


Análise de cena: Reconciliação das irmãs

            Após a morte de Anna, fica estabelecido um conflito entre as duas irmãs, Karin e Maria. As duas personagens, vestindo negro, enlutadas, estabelecem um diálogo onde Maria tenta aproximar-se de Anna. Na casa de paredes vermelhas, Agnes entra na sala, as duas personagens em quadro. Ela aproxima-se da parede, quer falar, mas é relutante. O figurino preto contrasta com as paredes vermelhas (estabelecendo opressão). A iluminação é marcada, com forte presença de sombras. Anna questiona o que Karin estaria fazendo: segue-se um corte seco, close no rosto de Karin, em um plano que vinha se desenrolando longamente. Seguem-se closes, mostrando a expressão das personagens. Anna parece que fala sozinha, divaga, sua posição é quase frontal, parecendo que ela fala com a câmera. O diálogo com a câmera sugere uma reafirmação da identidade da personagem.
            Após a discussão, segue a cena da reconciliação. É interessante o trabalho de trilha: durante a discussão, o silêncio é absoluto. Após as irmãs se desculparem uma com a outra, uma trilha de música clássica é inserida e não se pode ouvir o que as personagens dizem: elas se abraçam, se tocam e sorriem, mas não se ouve o que dizem. Não há campo e contracampo: as duas personagens estão em cena, e a câmera oscila entre os dois rostos em primeiro plano, em um movimento de câmera ousado. Depois, as duas ficam enquadradas em plano médio e é como se a câmera estivesse parada; Bergman dá a liberdade para as atrizes realizarem a sua interpretação, sem cortes.
            Bergman utiliza com maestria a trilha sonora. Embora o filme seja pontuado por silêncios, como se enfatizasse a solidão das personagens, ele comenta:

“Gritos e sussurros "não é a minha própria frase, mas vem de uma revisão de uma sonata para piano de Mozart. Eu não me lembro qual. Ele disse que a lentidão de movimentos eram como gritos e sussurros, e eu pensei que se encaixam muito bem. Porque é, na verdade, um pedaço da música traduzido em imagens”.
Ingmar Bergman, entrevista com Marie Nyreröd (2003)    




Conclusão

Podemos dizer que Bergman filia-se a um cinema autoral, preferindo o plano como entidade fundamental, privilegiando a continuidade do desempenho dos atores e que ele valoriza cada corte. O ritmo do filme depende da mise-en-scène, e depois da montagem.
            Bergman certa vez definiu o filme que se aproxima muito mais de um estado de alma do que de uma história a ser narrada nos princípios clássicos hollywoodianos. A passagem do tempo, embora siga uma estrutura aparentemente linear, culminando com a morte da irmã, apela para diversos flashbacks e fluxos de consciência das personagens. O figurino e os cenários, abusando do constraste preto, branco e vermelho, sugerem emoções como tristeza, apatia e a raiva (ou ainda, a culpa).


Bibliografia

Site Bergmanorama: http://bergmanorama.webs.com/ Site Revista Contracampo, artigo de Luiz Carlos de Oliveira Júnior, disponível em
Site Ingmar Bergman Foudation, disponível em http://www.ingmarbergman.se/

Tarkovsky, Andrei. Esculpir o Tempo. Martins Fontes, 1998.
Baptista, Mauro. O cinema de Quentin Tarantino. Editora Papirus, 2011.
Bordwell, David. Figuras Traçadas na Luz. Editora Papirus, 2009.

A fotografia em Gritos e Sussuros


Bergman conta em sua fotobiografia “Imagens” que a inspiração para “Gritos e Sussuros” veio de um sonho:

“A primeira cena surgia em minha mente o tempo todo: um quarto com papel de parede vermelha e mulheres vestidas de branco. Acontece que certas imagens voltam teimosamente a meu cérebro sem que eu perceba a intenção delas. (...) Quatro mulheres vestidas de branco, num quarto com parede vermelha. A cena perseguiu-me um ano inteiro. Não sabia evidentemente como se chamariam as mulheres, nem por que se moviam numa luz difusa, de madrugada, num quarto de paredes vermelhas. Repetidas vezes eu rechaçava esta visão, recusando-me a usá-la como ponto de partida para um filme ou para o que quer que fosse. Mas ela foi teimosa e, contra minha vontade, identifiquei-a: trata-se de três mulheres que esperam o falecimento da quarta. E velam por turnos.”
(Bergman, Igmar. Imagens)


“Gritos e Sussuros” conta a história destas três irmãs: Agnes (Harriet Andersson) está muito doente e recebe os cuidados das irmãs Karin (Ingrid Thulin), a mais velha e Maria (Liv Ullmann), a caçula, além da criada Anna (Kari Sylwan) que está na família há tempos. Neste cenário tenso, onde a morte será o desfecho inevitável, as personagens em sua própria solidão e loucura. A concepção das cores do filme e do cenário é de um cuidado impressionante: marcadamente, destacam-se o vermelho, o preto e o branco.
Nas palavras de Bergman, em sua fotobiografia:

“Todos os meus filmes podem admitir-se filmados em preto e branco, menos Gritos e Sussuros. No roteiro está mencionado que imagino a cor vermelha como sendo o interior da alma. Quando era criança, via a alma como se fosse a sombra de um dragão, de um cinzento-azulado, pairando sobre nós sob a forma de um ser alado, meio ave, meio peixe. Mas tudo dentro deste dragão era vermelho.”
(Bergman, Igmar. Imagens)

Em Gritos e Sussurro vemos o branco e o preto do figurino emoldurado pelo vermelho do cenário em quase todas as cenas. O vermelho é influência importante na psique dos personagens, explicitamente nas diversas “dissoluções para o vermelho”, que são a sinalização de que começará “o drama de cada personagem”. A própria abertura do filme já sinaliza o uso da cor, com a tela mostrando os créditos em intenso vermelho:

 
O plano de estabelecimento e a introdução ao estilo do filme

            O establishment shot do filme conduz o espectador de maneira gradativa: na abertura, cenas externas do jardim da casa aonde irá se desenvolver a ação, com ênfase no azulado, esverdeado. A movimentação da câmera é oscilante. O fade para o vermelho vai nos mostrar o que acontece dentro da casa. O trabalho de cores no filme é marcante: nesta cena, é como mostrar o contraste da calma natureza da parte externa da casa, com tons esverdeados, azulados, com o intenso vermelho do interior da casa, aonde irá se desenrolar a ação dramática, a tensão:


 
A transição de cores vai do azulado/verde para um fade em vermelho, marcando o ambiente interno.

Segundo Carlos Ebert em seu artigo “A cinematografia das cores”, estabelecer uma relação via de regra com fórmulas que atribuam sentimentos às cores seria uma abordagem muito simplista. Entretanto, dizer que as cores não tem significado intrínseco não quer dizer que as cores não tenham significação. Ainda, podemos citar Deleuze:

“Há efetivamente um simbolismo das cores, mas este não consiste uma correspondência entre uma cor e um afeto (o verde e a esperança...). Ao contrário, a cor é o próprio afeto, isto é, a conjunção virtual de todos os objetos que ela capta.”
(Deleuze, Giles. A imagem movimento, p. 17)

O uso de cores no cinema, em sua forma mais pura, poderia ser considerado com seu uso psicológico, em sugerir emoções e reações dos personagens envolvidos na cena. É o que faz Bergman em seu filme, relacionando a cor vermelha ao significado de tensão, nas transições para o vermelho, marcando o drama interior de cada personagem. Alguns podem também relacionar o contraste das paredes vermelhas que abrigam as irmãs como o útero materno, tratando-se de um filme também com uma abordagem familiar, em uma abordagem mais psicanalítica. Assim como o negro é dominante no luto, representando a completa transição das personagens, que antes vestiam o branco e agora imergem no luto da morte da irmã.

As personagens – uma possibilidade de leitura

            Podemos sugerir que cada uma das personagens sugere uma faceta feminina: A irmã Karin, de personalidade mais forte, sugere o ódio (simbolizado na cena em que se mutila com um caco de vidro). Aqui, fica clara a relação do vermelho representado pelo sangue e ódio da personagem.

 
Maria, a irmã mais nova, representa a beleza em intensa sensualidade marcada por um comportamento frívolo (é a única personagem que aparece em um romance, com o médico que visita a enferma). É marcante a cena em que dialoga com o médico David (Earland Josepshon) em que ele compara as marcas de seu rosto com seu estado emocional, sugerindo que sua beleza foi afetada pela dissimulação e cinismo.

A criada Anna simbolizaria a mãe, marcadamente culpada pelo falecimento do filho pequeno, é a mais atenciosa com Agnes, a doente. Após o falecimento de Ana, a criada tem alucinações de que ainda conversa consigo (ou ainda, pode ser lido com uma sugestão de pesadelo). Em uma clara referência à escultura Pietá, de Michelangelo, Bergman mostra a criada Anna segurando a já morta Agnes.


 
A personagem enferma, Agnes, simboliza a faceta da força feminina, e mesmo em seus relatos, não se nota o ódio nem o rancor. Bergman, em seus relatos, disse que o destaque da personagem seria a sua força – em vivenciar tamanha dor por conta de sua doença e pela presença iminente da morte. É desta personagem o único relato de alegria no filme, no passeio em que faz com suas irmãs em um jardim florido:


 “Minhas irmãs vieram me visitar. É maravilhoso estarmos juntas, como nos velhos tempos. As pessoas que eu mais gosto no mundo, estavam comigo. Eu as ouvia conversar a minha volta.  Eu sentia a presença de seus corpos e o calor das suas mãos.
Eu queria me apegar àquele momento e pensei: aconteça o que acontecer, isto é felicidade. Não posso desejar nada melhor. Agora, por poucos minutos posso vivenciar a perfeição. Sinto uma grande gratidão pela vida, que faz tanto por mim.”

O trabalho de cores nesta cena é marcante: a dominância dos tons de verde e amarelo, contrastando com os vestidos claros das personagens. O cuidado com a iluminação e as cores pode ser expresso nesta citação de Bergman:

“As cores foram provadas com extremo cuidado. Quando Sven e eu fizemos nosso primeiro filme em cores, foi depois de ter feito todas as provas possíveis, não apenas quanto à maquilagem, cor dos cabelos, das roupas, mas também ao que se referia a objetos, papéis de parede, tecidos de móveis, até restos de comida. Tudo controlado no mínimo detalhe. E tudo o que iria ser usado fora de casa foi testado fora de casa. Também as maquilagens para as seqüências à luz do dia. Numa palavra: quando começamos o trabalho, não havia um só detalhe que não tivesse já estado diante da objetiva.”
(Ingmar Bergman, Imagens)

Relacionando o filme com movimentos artísticos – influências expressionistas

            Uma das maiores críticas de cinema de todos os tempos, Pauline Kael, fez o seguinte comentário acerca do filme:

"The movie is built out of a series of emotionally charged images that express inner stress, and Bergman handles them with the fluidity of a master. Superbly photographed by Sven Nykvist in a style suggesting Edvard Munch, and with blood-red backgrounds, the film is smooth and hypnotic; it has oracular power and the pull of a dream. Yet there's a 19th-century dullness at the heart of it. Each sister represents a different aspect of woman–woman viewed as the Other–and the film mingles didacticism with erotic mystery.)
(Pauline Kael – site Bergmaromana)

            No comentário, Pauline sugere a relação com o trabalho do pintor expressionista Edward Munch. O expressionismo foi um movimento cultural de vanguarda surgido na Alemanha nos primórdios do século XX, de indivíduos que estavam mais interessados na interiorização da criação artística do que na sua exteriorização, projetando na obra de arte uma reflexão individual e subjetiva. Ou seja, a obra de arte é reflexo direto do mundo interior do artista expressionista. Edward Munch vincula-se ao expressionismo modernista, e suas pinturas tematizam sentimentos como a solidão, angústia, morte e depressão. Seu quadro mais conhecido popularmente é “O grito”, que trata-se de uma figura desfigurada simbolizando a angústia. O expressionismo abusa de cores saturadas e de deformações para expressar o mundo interior do artista.


 
Podemos também sugerir uma relação entre outros quadros de Munch, no tocante à saturação de cores. Na primeira obra, “A cama do defunto”, nota-se até mesmo o uso contrastado das paredes vermelho-alarajandas com o figurino dos personagens. No segundo quadro, nota-se também o contraste de cores, além da mesma temática.

Utilizando das palavras de Bazin no seu livro “A imagem”, podemos dizer que o expressionismo caracteriza-se por três traços: a recusa da representação (a ideologia expressionista acrescenta um além da representação, é o desejo de ir mais longe e permitir que a imagem atinga a representação do invisível, do inefável e do transcendente); a exacerbação da subjetividade (o sentido do objeto deve ser buscado além da aparência); a importância atribuída ao material (o expressionismo é a arte dos contrastes marcados, a arte da linha quebrada e inclinada, a arte das cores puras) e o excesso.
Bibliografia

Livros:

AUMONT, Jacques. A imagem. Ed. Papirus, 1993.
DELEUZE, Giles. A imagem-movimento. Ed. Brasiliense, 1983.
BERGMAN, Ingmar. Imagens. Editora Martins Fontes, 1996.

Páginas de Internet:

Cor e cinematografia no cinema – Carlos Ebert
Disponível em:
Consultado em 3/07/11

Site Bergmanorama:
Disponível em:
Consultado em 3/07/11




Face to Face (1968)

Face a Face - 1968


"Bergman mostrou ao mundo que as faces são sempre importantes. A ação, assim, pode estar em apenas um olhar."

Face a Face, de 1976, fora concebido originalmente como uma série. Na versão editada, ao cinema, tem-se a impressão que o drama não chegou ao seu ápice justamente porque alguns pedaços necessários à construção foram deixados de lado. Os problemas de Jenny em alguns momentos não parecem absolutamente claros; portanto, o próprio espectador deve preencher algumas lacunas deixadas pelo texto de Bergman. Àqueles que conhecem a obra do cineasta, será mais fácil embarcar nessa "viagem" interior, pois, como a maioria dos personagens de sua obra, há descontrole e conflito. Sem qualquer ressentimento, repleto de verdade, o cineasta quer dizer, em resumo de sua filmografia, que o ser humano não suporta viver sem seus conflitos. E não há qualquer significado à vida sem as máscaras, variadas, utilizadas pelas pessoas em seus cotidianos.

Diferente de artistas como Antonioni, que relatavam os dramas e desesperos humanos a partir do conflito entre homem e ambiente, sobre as mudanças do mundo, Bergman parece extrair sua fonte e suporte ao filme apenas do espírito humano. Nele, muitas vezes longe do ambiente, desfilam pessoas em dúvida; ou mesmo, como Jenny, à beira de um colapso que pode ser apresentado em qualquer lugar do globo.

Bergman, um autor com extrema convicção em relação à força da platéia em suportar o caminho desta protagonista, ainda insere, ao fim, o difícil diálogo entre mãe e filha. O tema central parece se repetir no trabalho seguinte do diretor, Sonata de Outono, sobre a relação de ódio entre parentes próximos. Face a Face demonstra outro item constante em seus filmes: a culpa que muitas pessoas carregam em vida; e algumas delas, como no caso de Jenny, adquiridas enquanto crianças. Talvez esse seja o principal acerto de Bergman em muitos casos, o de "desmascarar" suas criações aos poucos, como se a vida fosse uma caixa até então fechada e preste a explodir quando personagens como Jenny são confrontadas com o passado, com a mudança ou mesmo com seus próprios erros.

Fonte: http://cinemasemtempo.blogspot.com.br/2010/01/as-mascaras-de-bergman-parte-4-face.html  

sábado, 7 de julho de 2012

Filmografia completa

Filmografia










Ano









Título original









Título no Brasil









Título em Portugal









Observações
1945 Kris Crise

1946 Det regnar på vår kärlek Chove sobre nosso amor

1947 Skepp till India land Um barco para a Índia

1948 Musik i mörker Música na Noite

1948 Hamnstad Porto

1949 Fängelse Prisão A Prisão
1949 Törst Sede de Paixões

1949 Till glädje Rumo à Felicidade

1950 Sånt händer inte här Isto não Aconteceria Aqui

1951 Sommarlek Juventude, Divino Tesouro

1952 Kvinnors väntan Quando as Mulheres Esperam Segredos de Mulheres
1952 Sommaren med Monika Monika e o Desejo Mónica e o Desejo
1953 Gycklarnas afton Noites de Circo

1954 En lektion i kärlek Uma Lição de Amor Uma Lição de Amor
1955 Kvinnodröm Sonhos de Mulheres

1955 Sommarnattens leende Sorrisos de uma Noite de Amor Sorrisos de uma Noite de Verão
1956 Det sjunde inseglet O Sétimo Selo O Sétimo Selo
1957 Smultronstället Morangos Silvestres Morangos Silvestres (rever)
1957 Nära livet No Limiar da Vida

1958 Ansiktet O Rosto O Rosto
1959 Jungfrukällan A Fonte da Donzela A Fonte da Virgem
1960 Djävulens öga O Olho do Diabo O Olho do Diabo
1961 Lustgården O Jardim do Prazer

1961 Såsom i en spegel Através de um Espelho Em Busca da Verdade
1962 Nattvardsgästerna Luz de Inverno Luz de Inverno
1963 Tystnaden O Silêncio O Silêncio
1964 För att inte tala om alla dessa kvinnor Para não Falar de Todas Essas Mulheres A Força do Sexo Fraco (rever)
1966 Persona Quando Duas Mulheres Pecam A Máscara (rever)
1967 Stimulantia


1968 Vargtimmen A Hora do Lobo

1968 Skammen Vergonha

1969 En passion A Paixão de Ana

1969 Ritten O Rito

1969 Fårödokument Documentário sobre a Ilha de Faro

1971 Beröringen A Hora do Amor

1972 Viskningar och rop Gritos e Sussurros Lágrimas e Suspiros
1973 Scener ur ett äktenskap Cenas de um Casamento Cenas da Vida Conjugal
1974 Trollflöjten A Flauta Mágica A Flauta Mágica
1976 Ansikte mot ansikte Face a Face

1977 Das Schlangenei O Ovo da Serpente

1978 Höstsonaten Sonata de Outono Sonata de Outono (rever)
1979 Fårödokument


1980 Aus dem Leben der Marionetten Da Vida das Marionetes Da Vida das Marionetas (rever)
1982 Fanny och Alexander Fanny e Alexander

1983 Karins ansikte O Rosto de Karin

1984 Efter repetitionen Depois do Ensaio Depois do Ensaio
1986 Documentário sobre Fanny and Alexander


1992 Markisinnan de Sade

TV
1993 Backanterna

TV
1995 Sista skriket

TV
1997 Larvar och gör sig till Na Presença de um Palhaço
TV
2000 Bildmakarna Os Construtores de Imagens
TV
2003 Saraband Cinema Digital Saraband