sábado, 7 de julho de 2012

O Rito - Ritten (1969)

Concebido para ser publicado diretamente na televisão, foi produzido com baixo orçamento. Talvez por isto sua história tenha sido desdobrada com apenas quatro personagens, pouquíssimos efeitos de tela e nenhuma filmagem externa. Isto não diminuiu sua beleza fotográfica, idealizada por Sven Nykvist, que consegue traduzir de maneira excepcional a psiquê comprimida dos personagens. O filme conta, ainda, com a participação do próprio Bergman, no papel de um padre, que aparece em apenas uma cena e não possui nenhuma fala.

As cenas de Bergman, desta forma, comportam-se como uma sequência de reflexões acerca do papel da arte e dos artistas no mundo.

A impressão passada pelo filme é a de que o conceito de arte trabalhado por Bergman aproxima-se muito daquele cunhado pelos surrealistas franceses do último século. Nos Manifestos do Surrealismo Breton e seus companheiros afirmavam a necessidade de uma arte libertária, capaz de construir mitos que reencantassem o mundo aos homens. Uma tentativa de destruir a "gaiola de aço" da racionalidade burguesa, imposta pela lógica mercantil, de reencontrar o lugar da imaginação, da inventividade e da psiquê humana, de uma forma que pudesse expressar-se livremente, sem as constrições impostas pela sociabilidade do capital.

Não por acaso, a história do grupo Surrealista francês confunde-se com a da esquerda francesa do século XX. Estando entre os artistas organizados que se filiaram ao comunismo, o surrealismo também esteve entre os primeiros segmentos a romperem com a lógica stalinista dos Partidos Comunistas degenerados pela burocratização soviética. Quanto a Bergman, sua atividade política não esteve entre seus principais feitos, o que fez restar poucas informações acerca da mesma. De qualquer maneira, talvez instintivamente, o conceito artístico passado pelo cineasta sueco demonstrou-se idêntico, no essencial, ao dos artistas franceses da década de 1930.

Assim, é possível notar como a arte, representada pelos artistas de Bergman, repudia de maneira impulsiva a racionalidade burguesa, representada pelo juiz. 

O mais impressionante aspecto de aproximação entre Bergman e os Surrealistas é a forma como concebe a arte como uma maneira profana de iluminar o saber humano. O Surrealismo cunhou o conceito de "iluminação profana" que deveria servir mesmo como uma corruptela da iluminação religiosa. Desta maneira, a arte, constituída pelos mitos conscientemente criados pelo artista, deveria servir para iluminar a realidade frente aos homens.

Fonte: http://antesquixote.blogspot.com.br/2009/01/o-rito-de-ingmar-bergman.html

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