domingo, 8 de julho de 2012

Gritos e Sussuros - 1972


Análise da mise-en-scène em “Gritos e Sussurros”, de Ingmar Bergman

Definindo mise-en-scène

Definir mise-en-scène é falar da essência de um filme. Na definição de Bordwell, a mise-en-scène compreende todos os aspectos da filmagem sob a direção do cineasta: a interpretação, o enquadramento, a iluminação, o posicionamento da câmera. Mise-en-scène também se refere à maneira como os atores entram na composição do quadro, o modo a ação se desenrola no fluxo temporal.

O plano de estabelecimento e a introdução ao estilo do filme

            O establishment shot do filme conduz o espectador de maneira gradativa: na abertura, cenas externas do jardim da casa aonde irá se desenvolver a ação, com ênfase no azulado, esverdeado. A movimentação da câmera é oscilante. O fade para o vermelho vai nos mostrar o que acontece dentro da casa. O trabalho de cores no filme é marcante: nesta cena, é como mostrar o contraste da calma natureza da parte externa da casa, com tons esverdeados, azulados, com o intenso vermelho do interior da casa, aonde irá se desenrolar a ação dramática, a tensão:


“Basicamente, há apenas três cores em Gritos e Sussurros: o vermelho das paredes e o branco e o preto que as mulheres vestem. Ou seja, um filme que retrata a morte, o amor, o sexo e o ódio, passa-se em uma casa de paredes e chão vermelhos. Bergman disse não saber exatamente o motivo, afirmou que talvez fosse porque imaginava vermelhas as paredes do útero, assim como as da alma. Deve haver alguma verdade no senso comum que considera tal cor a representação da paixão e da raiva.”
 (Milton Ribeiro)


A transição de cores vai do azulado/verde para um fade em vermelho, marcando o ambiente interno.
Um relógio antigo sugere a passagem inevitável do tempo. O som do relógio é o único em cena:

“O momento da morte representa também a morte do tempo individual: a vida de um ser humano torna-se inacessível aos sentimentos daqueles que continuam vivos, morre para aqueles que o cercam.”

(Tarkovsky, Esculpir o Tempo, p.64)


A próxima cena nos apresenta uma das personagens, a irmã Maria (Liv Ulman) deitada em uma espécie de cadeira, acomodada de forma improvisada, pois estava cuidando da protagonista, a personagem de Harriet Anderson (Agnes), que é mostrada a seguir. Todo o interior da casa é apresentado em um vermelho saturado. O contraste com a roupa das personagens, um branco alvo, é expressivo. Nesta cena, a câmera faz um corte abrupto para um close no rosto da personagem Agnes, evidenciando sua condição física. O rosto da atriz é iluminado lateralmente, com a luz que vem da janela. Segue-se um longo plano, com o rosto da personagem em close, onde ela agoniza. A longa cena, sem cortes, parece querer enfatizar o sentimento de mal estar ao espectador:

“Bergman é sem dúvida um dos grandes estetas do close-up cinematográfico, e aqui seu teatro de fisionomias adquire uma carga extra de significação: Gritos e Sussurros é uma anatomia de rostos femininos, estudados tanto em sua materialidade quanto em seus investimentos subjetivos. E esses rostos, ao menos para Bergman, são “contos de terror”, daí seu teatro de fisionomias se desdobrar numa performance da crueldade, encenada com marionetes que sofrem de um desespero magoado e, muitas vezes, contido (quando apenas sussurrado).
(Luiz Carlos Oliveira Jr., Revista Contracampo)    


A personagem levanta-se com dificuldade. Não há cortes: Bergman privilegia os planos-seqüência, enfatizando a atuação dos personagens e dando uma maior carga dramática à cena. Agnes se aproxima do relógio, mais uma vez em sua marcação de tempo: o tempo da personagem está se esgotando e ela parece ter a consciência disso. Ao aproximar-se da janela, um brusco corte registra a paisagem externa.


A encenação em profundidade:

“Na acepção mais difundida, a profundidade de campo designa a capacidade das lentes da câmera em captar diversos planos de ação em foco. (...) Planos com várias escalas de profundidade exigem que o espectador tenha tempo para ler a imagem e estabelecer as relações entre personagens e objetos na frente e no fundo da imagem.”
(Baptista, Mauro)


 
Na cena apresentada, vemos as duas irmãs de Agnes mais a criada Anna. Podemos observar a encenação em profundidade pela disposição das atrizes em quadro: em uma encenação quase que teatral, vemos a irmã Maria (Liv Ulmann) em primeiro plano, acordando, em um segundo, a criada Anna, servindo o café, e no fundo do quadro, percebe-se a irmã Karin entrando em cena. Aqui, podemos ter um exemplo de perspectiva e de profundidade de campo, uma vez que tanto o primeiro plano quanto o fundo estão nítidos. A ação se desenrola em vários “planos”, e as atrizes movem-se como se realizassem uma “coreografia”.
Por encenação, utilizando-se dos conceitos de Bordwell, entenda-se o conjunto dos elementos cênicos que, articulados, ajudam a contar uma história e transmitir emoções e idéias: luz, cenografia, figurinos, a posição e movimentação dos atores.
A cena tem uma longa duração e é sem cortes. Montagem e encenação se complementam, mas, num certo nível, se opõem. Dar preferência à encenação significa, em grande parte das vezes, privilegiar os planos-seqüência, isto é, aqueles sem cortes e/ou planos fixos, onde a profundidade de campo e a movimentação dos atores, auxiliadas por uma disposição engenhosa de elementos de cenografia, têm mais relevância para contar a história do que os cortes entre vários tipos de planos.


Análise de cena: Reconciliação das irmãs

            Após a morte de Anna, fica estabelecido um conflito entre as duas irmãs, Karin e Maria. As duas personagens, vestindo negro, enlutadas, estabelecem um diálogo onde Maria tenta aproximar-se de Anna. Na casa de paredes vermelhas, Agnes entra na sala, as duas personagens em quadro. Ela aproxima-se da parede, quer falar, mas é relutante. O figurino preto contrasta com as paredes vermelhas (estabelecendo opressão). A iluminação é marcada, com forte presença de sombras. Anna questiona o que Karin estaria fazendo: segue-se um corte seco, close no rosto de Karin, em um plano que vinha se desenrolando longamente. Seguem-se closes, mostrando a expressão das personagens. Anna parece que fala sozinha, divaga, sua posição é quase frontal, parecendo que ela fala com a câmera. O diálogo com a câmera sugere uma reafirmação da identidade da personagem.
            Após a discussão, segue a cena da reconciliação. É interessante o trabalho de trilha: durante a discussão, o silêncio é absoluto. Após as irmãs se desculparem uma com a outra, uma trilha de música clássica é inserida e não se pode ouvir o que as personagens dizem: elas se abraçam, se tocam e sorriem, mas não se ouve o que dizem. Não há campo e contracampo: as duas personagens estão em cena, e a câmera oscila entre os dois rostos em primeiro plano, em um movimento de câmera ousado. Depois, as duas ficam enquadradas em plano médio e é como se a câmera estivesse parada; Bergman dá a liberdade para as atrizes realizarem a sua interpretação, sem cortes.
            Bergman utiliza com maestria a trilha sonora. Embora o filme seja pontuado por silêncios, como se enfatizasse a solidão das personagens, ele comenta:

“Gritos e sussurros "não é a minha própria frase, mas vem de uma revisão de uma sonata para piano de Mozart. Eu não me lembro qual. Ele disse que a lentidão de movimentos eram como gritos e sussurros, e eu pensei que se encaixam muito bem. Porque é, na verdade, um pedaço da música traduzido em imagens”.
Ingmar Bergman, entrevista com Marie Nyreröd (2003)    




Conclusão

Podemos dizer que Bergman filia-se a um cinema autoral, preferindo o plano como entidade fundamental, privilegiando a continuidade do desempenho dos atores e que ele valoriza cada corte. O ritmo do filme depende da mise-en-scène, e depois da montagem.
            Bergman certa vez definiu o filme que se aproxima muito mais de um estado de alma do que de uma história a ser narrada nos princípios clássicos hollywoodianos. A passagem do tempo, embora siga uma estrutura aparentemente linear, culminando com a morte da irmã, apela para diversos flashbacks e fluxos de consciência das personagens. O figurino e os cenários, abusando do constraste preto, branco e vermelho, sugerem emoções como tristeza, apatia e a raiva (ou ainda, a culpa).


Bibliografia

Site Bergmanorama: http://bergmanorama.webs.com/ Site Revista Contracampo, artigo de Luiz Carlos de Oliveira Júnior, disponível em
Site Ingmar Bergman Foudation, disponível em http://www.ingmarbergman.se/

Tarkovsky, Andrei. Esculpir o Tempo. Martins Fontes, 1998.
Baptista, Mauro. O cinema de Quentin Tarantino. Editora Papirus, 2011.
Bordwell, David. Figuras Traçadas na Luz. Editora Papirus, 2009.

A fotografia em Gritos e Sussuros


Bergman conta em sua fotobiografia “Imagens” que a inspiração para “Gritos e Sussuros” veio de um sonho:

“A primeira cena surgia em minha mente o tempo todo: um quarto com papel de parede vermelha e mulheres vestidas de branco. Acontece que certas imagens voltam teimosamente a meu cérebro sem que eu perceba a intenção delas. (...) Quatro mulheres vestidas de branco, num quarto com parede vermelha. A cena perseguiu-me um ano inteiro. Não sabia evidentemente como se chamariam as mulheres, nem por que se moviam numa luz difusa, de madrugada, num quarto de paredes vermelhas. Repetidas vezes eu rechaçava esta visão, recusando-me a usá-la como ponto de partida para um filme ou para o que quer que fosse. Mas ela foi teimosa e, contra minha vontade, identifiquei-a: trata-se de três mulheres que esperam o falecimento da quarta. E velam por turnos.”
(Bergman, Igmar. Imagens)


“Gritos e Sussuros” conta a história destas três irmãs: Agnes (Harriet Andersson) está muito doente e recebe os cuidados das irmãs Karin (Ingrid Thulin), a mais velha e Maria (Liv Ullmann), a caçula, além da criada Anna (Kari Sylwan) que está na família há tempos. Neste cenário tenso, onde a morte será o desfecho inevitável, as personagens em sua própria solidão e loucura. A concepção das cores do filme e do cenário é de um cuidado impressionante: marcadamente, destacam-se o vermelho, o preto e o branco.
Nas palavras de Bergman, em sua fotobiografia:

“Todos os meus filmes podem admitir-se filmados em preto e branco, menos Gritos e Sussuros. No roteiro está mencionado que imagino a cor vermelha como sendo o interior da alma. Quando era criança, via a alma como se fosse a sombra de um dragão, de um cinzento-azulado, pairando sobre nós sob a forma de um ser alado, meio ave, meio peixe. Mas tudo dentro deste dragão era vermelho.”
(Bergman, Igmar. Imagens)

Em Gritos e Sussurro vemos o branco e o preto do figurino emoldurado pelo vermelho do cenário em quase todas as cenas. O vermelho é influência importante na psique dos personagens, explicitamente nas diversas “dissoluções para o vermelho”, que são a sinalização de que começará “o drama de cada personagem”. A própria abertura do filme já sinaliza o uso da cor, com a tela mostrando os créditos em intenso vermelho:

 
O plano de estabelecimento e a introdução ao estilo do filme

            O establishment shot do filme conduz o espectador de maneira gradativa: na abertura, cenas externas do jardim da casa aonde irá se desenvolver a ação, com ênfase no azulado, esverdeado. A movimentação da câmera é oscilante. O fade para o vermelho vai nos mostrar o que acontece dentro da casa. O trabalho de cores no filme é marcante: nesta cena, é como mostrar o contraste da calma natureza da parte externa da casa, com tons esverdeados, azulados, com o intenso vermelho do interior da casa, aonde irá se desenrolar a ação dramática, a tensão:


 
A transição de cores vai do azulado/verde para um fade em vermelho, marcando o ambiente interno.

Segundo Carlos Ebert em seu artigo “A cinematografia das cores”, estabelecer uma relação via de regra com fórmulas que atribuam sentimentos às cores seria uma abordagem muito simplista. Entretanto, dizer que as cores não tem significado intrínseco não quer dizer que as cores não tenham significação. Ainda, podemos citar Deleuze:

“Há efetivamente um simbolismo das cores, mas este não consiste uma correspondência entre uma cor e um afeto (o verde e a esperança...). Ao contrário, a cor é o próprio afeto, isto é, a conjunção virtual de todos os objetos que ela capta.”
(Deleuze, Giles. A imagem movimento, p. 17)

O uso de cores no cinema, em sua forma mais pura, poderia ser considerado com seu uso psicológico, em sugerir emoções e reações dos personagens envolvidos na cena. É o que faz Bergman em seu filme, relacionando a cor vermelha ao significado de tensão, nas transições para o vermelho, marcando o drama interior de cada personagem. Alguns podem também relacionar o contraste das paredes vermelhas que abrigam as irmãs como o útero materno, tratando-se de um filme também com uma abordagem familiar, em uma abordagem mais psicanalítica. Assim como o negro é dominante no luto, representando a completa transição das personagens, que antes vestiam o branco e agora imergem no luto da morte da irmã.

As personagens – uma possibilidade de leitura

            Podemos sugerir que cada uma das personagens sugere uma faceta feminina: A irmã Karin, de personalidade mais forte, sugere o ódio (simbolizado na cena em que se mutila com um caco de vidro). Aqui, fica clara a relação do vermelho representado pelo sangue e ódio da personagem.

 
Maria, a irmã mais nova, representa a beleza em intensa sensualidade marcada por um comportamento frívolo (é a única personagem que aparece em um romance, com o médico que visita a enferma). É marcante a cena em que dialoga com o médico David (Earland Josepshon) em que ele compara as marcas de seu rosto com seu estado emocional, sugerindo que sua beleza foi afetada pela dissimulação e cinismo.

A criada Anna simbolizaria a mãe, marcadamente culpada pelo falecimento do filho pequeno, é a mais atenciosa com Agnes, a doente. Após o falecimento de Ana, a criada tem alucinações de que ainda conversa consigo (ou ainda, pode ser lido com uma sugestão de pesadelo). Em uma clara referência à escultura Pietá, de Michelangelo, Bergman mostra a criada Anna segurando a já morta Agnes.


 
A personagem enferma, Agnes, simboliza a faceta da força feminina, e mesmo em seus relatos, não se nota o ódio nem o rancor. Bergman, em seus relatos, disse que o destaque da personagem seria a sua força – em vivenciar tamanha dor por conta de sua doença e pela presença iminente da morte. É desta personagem o único relato de alegria no filme, no passeio em que faz com suas irmãs em um jardim florido:


 “Minhas irmãs vieram me visitar. É maravilhoso estarmos juntas, como nos velhos tempos. As pessoas que eu mais gosto no mundo, estavam comigo. Eu as ouvia conversar a minha volta.  Eu sentia a presença de seus corpos e o calor das suas mãos.
Eu queria me apegar àquele momento e pensei: aconteça o que acontecer, isto é felicidade. Não posso desejar nada melhor. Agora, por poucos minutos posso vivenciar a perfeição. Sinto uma grande gratidão pela vida, que faz tanto por mim.”

O trabalho de cores nesta cena é marcante: a dominância dos tons de verde e amarelo, contrastando com os vestidos claros das personagens. O cuidado com a iluminação e as cores pode ser expresso nesta citação de Bergman:

“As cores foram provadas com extremo cuidado. Quando Sven e eu fizemos nosso primeiro filme em cores, foi depois de ter feito todas as provas possíveis, não apenas quanto à maquilagem, cor dos cabelos, das roupas, mas também ao que se referia a objetos, papéis de parede, tecidos de móveis, até restos de comida. Tudo controlado no mínimo detalhe. E tudo o que iria ser usado fora de casa foi testado fora de casa. Também as maquilagens para as seqüências à luz do dia. Numa palavra: quando começamos o trabalho, não havia um só detalhe que não tivesse já estado diante da objetiva.”
(Ingmar Bergman, Imagens)

Relacionando o filme com movimentos artísticos – influências expressionistas

            Uma das maiores críticas de cinema de todos os tempos, Pauline Kael, fez o seguinte comentário acerca do filme:

"The movie is built out of a series of emotionally charged images that express inner stress, and Bergman handles them with the fluidity of a master. Superbly photographed by Sven Nykvist in a style suggesting Edvard Munch, and with blood-red backgrounds, the film is smooth and hypnotic; it has oracular power and the pull of a dream. Yet there's a 19th-century dullness at the heart of it. Each sister represents a different aspect of woman–woman viewed as the Other–and the film mingles didacticism with erotic mystery.)
(Pauline Kael – site Bergmaromana)

            No comentário, Pauline sugere a relação com o trabalho do pintor expressionista Edward Munch. O expressionismo foi um movimento cultural de vanguarda surgido na Alemanha nos primórdios do século XX, de indivíduos que estavam mais interessados na interiorização da criação artística do que na sua exteriorização, projetando na obra de arte uma reflexão individual e subjetiva. Ou seja, a obra de arte é reflexo direto do mundo interior do artista expressionista. Edward Munch vincula-se ao expressionismo modernista, e suas pinturas tematizam sentimentos como a solidão, angústia, morte e depressão. Seu quadro mais conhecido popularmente é “O grito”, que trata-se de uma figura desfigurada simbolizando a angústia. O expressionismo abusa de cores saturadas e de deformações para expressar o mundo interior do artista.


 
Podemos também sugerir uma relação entre outros quadros de Munch, no tocante à saturação de cores. Na primeira obra, “A cama do defunto”, nota-se até mesmo o uso contrastado das paredes vermelho-alarajandas com o figurino dos personagens. No segundo quadro, nota-se também o contraste de cores, além da mesma temática.

Utilizando das palavras de Bazin no seu livro “A imagem”, podemos dizer que o expressionismo caracteriza-se por três traços: a recusa da representação (a ideologia expressionista acrescenta um além da representação, é o desejo de ir mais longe e permitir que a imagem atinga a representação do invisível, do inefável e do transcendente); a exacerbação da subjetividade (o sentido do objeto deve ser buscado além da aparência); a importância atribuída ao material (o expressionismo é a arte dos contrastes marcados, a arte da linha quebrada e inclinada, a arte das cores puras) e o excesso.
Bibliografia

Livros:

AUMONT, Jacques. A imagem. Ed. Papirus, 1993.
DELEUZE, Giles. A imagem-movimento. Ed. Brasiliense, 1983.
BERGMAN, Ingmar. Imagens. Editora Martins Fontes, 1996.

Páginas de Internet:

Cor e cinematografia no cinema – Carlos Ebert
Disponível em:
Consultado em 3/07/11

Site Bergmanorama:
Disponível em:
Consultado em 3/07/11




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